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Como se lançar profissionalmente com o que ainda não está pronto

Quem faz transição profissional vai se deparar com vários bloqueios. Um deles é esperar pelo início perfeito para lançar seu projeto e, de tanto planejar e pensar, não conseguir se lançar.

“Não me sinto pronta.”

“Não é suficiente” ou, ainda mais profundo e doloroso, viver como verdadeira a falsa crença: “Não sou suficiente.”

Essa é a receita certa para falhar. E não no sentido positivo da prototipagem que tem o lema do “errar cedo para aprender rápido”, mas no sentido negativo de paralisar e não avançar nos projetos que sonhamos.

Esse tema tem sido presente em vários círculos que frequento e nas sessões com meus clientes. Lembrei do momento em que fiz uma das transições mais radicais da minha vida em 2013. Deixei minha área de formação em engenharia, mestrado e expertise de consultoria em planejamento regional para me aventurar em meu atual universo profissional com desenvolvimento humano, algo novo e desconhecido naquela época, mas que me chamava com muita força. Tinha um cargo com status diplomático, bom salário e uns tantos benefícios. Mas a alma estava vazia e decidida a encarar uma mudança.

Eu estava na Alemanha nesse período de transição, muito reclusa. Resolvi ir na festa de uma amiga e, como em todo evento social alemão, a pergunta de quebra-gelo é: O que você faz profissionalmente?
Congelei.

Eu tinha recém perdido meu cartão de visita, meu status profissional, aquele sobrenome que adotei como se fosse de uma família conhecida e que rapidamente ajudava as pessoas a me categorizar: sou Ana, da empresa tal.

Eu estava naquele ponto crítico entre saber o que eu não queria mais fazer, mas sem estar apropriada de mim mesma, sem saber o que dizer sobre o meu novo fazer, ainda em descoberta, questionando muitas coisas.

Muitas pessoas me perceberam nessa época como insatisfeita, ingrata em relação a tudo que minha carreira havia me dado: mais de 5 anos em uma universidade pública, bolsa para intercâmbio, depois para um mestrado, um bom emprego, estabilidade financeira...

As conversas com pessoas que alimentam esse sistema nutriam meu sentimento de medo e culpa. Eu escutava minhas próprias falas internas: joguei no lixo meu melhor emprego, não tem volta, perdi minha identidade, é insano querer começar do zero a essa altura da vida...
Crise profissional só existe porque há por trás uma crise existencial. Quisera naquela época eu pudesse ter respondido a partir do que sou, sem colocar todo meu valor no que eu faço. Com autoestima abalada, lembro de ter balbuciado meu novo plano (incerto) de criar meu próprio negócio, ainda sem saber ao certo o que seria, e a pessoa que acabara de me conhecer respondia: “Coitada. Por isso eu escolhi ser funcionária pública e nunca saí da Alemanha, assim, não passo por essa frustração e insegurança que você está passando. Schrecklich! (Terrível!), né?”

Esta simples frase de Clarice Lispector, com um pouco de autoconfiança, se tornaria minha pérola para futuras conversas de quebra-gelo em momentos de incerteza do futuro profissional:

"O que eu desejo ainda não tem nome"

Descobri que o que me fazia paralisar nesse tipo de interação tinha muito a ver com perfeccionismo. Era difícil aceitar e acolher que eu estava no momento mais aberto, imperfeito e incerto da minha vida. E exposta em uma sociedade que prega e recompensa o perfeito e descreve sucesso a partir do que fazemos que produz resultados visíveis, era difícil falar do meu momento de não saber ao certo o que eu estava experimentando, testando e descobrindo sobre meu novo exercício do trabalho.
Era doloroso estar com alguém que interpretava o meu momento como “desocupada”, sem compreender que eu estava colocando toda minha energia na descoberta de empreender a mim mesma, criando coragem para experimentar algo novo que colocasse o meu Ser no meu fazer, lidando com meus monstros da incerteza, da insegurança e do medo. Minha angústia e inquietação era com aquilo que eu ainda não via, mas sabia que estava lá. Só me faltava experimentar, mesmo sabendo que a maior chance era a de não acertar, afinal, era um aprendizado novo.

Me ajudou ler a newsletter do Tiago @tira.do.papel sobre as ironias da busca pelo início perfeito de um projeto:

“Tentar otimizar tudo para 'não perder tempo depois' faz muitas pessoas nunca começarem... mesmo depois de 'perderem tempo' otimizando.

Esperar as condições perfeitas para começar com um ritmo intenso faz muitas não saírem do lugar… o famoso 'em vez de ir devagar, nunca fui'.

Um lembrete de que é mais fácil melhorar algo que já existe e acelerar depois de já ter saído do lugar :)”
E fecho com a frase de uma querida colega, Sophie Stephenson, um exemplo de excelência profissional leve e amorosa construída ao longo de anos de uma carreira autônoma e corajosa:

“Se hoje eu sou boa nisso, é porque algum dia me permiti não ser. Tive que começar de algum lugar. Aprendi mais com o que não deu certo do que com o que deu.”

Sophie Stephenson

Se você quer se lançar profissionalmente e ainda está esperando algo para poder começar, vamos conversar?

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