Quem faz transição profissional vai se deparar com vários bloqueios. Um deles é esperar pelo início perfeito para lançar seu projeto e, de tanto planejar e pensar, não conseguir se lançar.
“Não me sinto pronta.”
“Não é suficiente” ou, ainda mais profundo e doloroso, viver como verdadeira a falsa crença: “Não sou suficiente.”
Essa é a receita certa para falhar. E não no sentido positivo da prototipagem que tem o lema do “errar cedo para aprender rápido”, mas no sentido negativo de paralisar e não avançar nos projetos que sonhamos.
Esse tema sem sido presente em vários círculos que frequento e nas sessões de pensamento. Uma conversa recente me fez lembrar do meu momento de transição mais radical em 2013. Deixei minha área de formação, mestrado e expertise de consultoria em planejamento regional para me aventurar em meu atual universo profissional, desconhecido pra mim ainda naquela época. Tinha um cargo com status diplomático, bom salário e uns tantos benefícios. Mas a alma estava vazia e decidida a encarar uma transição profissional. Bem naquele ponto crítico entre não ter mais o rótulo do cargo e nem o novo que eu queria construir, chega a típica pergunta de quebra gelo de festa alemã.
O que você faz profissionalmente?
Congelei.
Eu estava sensível emocionalmente, tinha acabado de encerrar meu contrato, retornado da Zâmbia, de passagem pela Alemanha... estava processando mais coisas do que o meu sistema nervoso dava conta.
Não foi a pergunta que me fez congelar, mas a insegurança criada por uma lista de crenças limitantes que gritavam no meu ouvido: “você abandonou sua carreira arduamente conquistada”, “jogou oportunidade no lixo, isso não tem volta”, “perdeu sua identidade”.
Eu devo ter balbuciado qualquer palavra com o resto da auto-estima que me restava nessa interação e lembro que me marcou muito a resposta da pessoa: “Coitada. Por isso eu escolhi ser funcionária pública e nunca saí da Alemanha, assim, não passo por essa frustração da incerteza e insegurança. Schrecklich! (Terrível!), né?”
Tentar esconder a insegurança, e até uma certa vergonha, só travou o processo de me lançar no novo. Talvez tivesse sido mais rápido, porém não mais fácil, assumir minha vulnerabilidade emprestando essa frase:
"O que eu desejo ainda não tem nome"
Clarice Lispector
Descobri que meu mecanismo de paralisação tinha muito a ver com perfeccionismo. Amei ler a newsletter do Tiago @tira.do.papel sobre as ironias da busca pelo início perfeito de um projeto:
“Tentar otimizar tudo para 'não perder tempo depois' faz muitas pessoas nunca começarem... mesmo depois de 'perderem tempo' otimizando.
Esperar as condições perfeitas para começar com um ritmo intenso faz muitas não saírem do lugar… o famoso 'em vez de ir devagar, nunca fui'.
Um lembrete de que é mais fácil melhorar algo que já existe e acelerar depois de já ter saído do lugar :)”
E fecho com a frase de uma querida colega, Sophie Stephenson, um exemplo de excelência profissional leve e amorosa:
“Se hoje eu sou boa nisso, é porque algum dia me permiti não ser. Tive que começar de algum lugar. Aprendi mais com o que não deu certo do que com o que deu.”
Sophie Stephenson
Se você quer se lançar profissionalmente e está procrastinando ainda, o que supõe que ainda está impedindo?
Compartilhe comigo suas reflexões!