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A transição agora é para (re)aprender a sentir

Está virando um costume eu me (re)apresentar cada vez que faço uma grande transição de vida. O que muda dentro de mim afeta minha forma de ser, de me expressar e tudo o que faço. Desta vez, a mudança afetou de tal maneira a oferta do meu trabalho, que foi preciso um novo site para contar as novidades.

Estou resgatando em mim a jovem que queria estudar psicologia, aos 19 anos. Mas, de tanto buscar aprovação externa, acabou indo para a engenharia. As crenças e os padrões que aprendi sobre o que era uma pessoa de sucesso me conduziram ao posto de consultora do governo alemão, levando tecnologia de ponta para a Zâmbia, com regalias de status diplomático. E foi lá também, no ápice da carreira, que experimentei meu maior vazio. Tinha dinheiro. Tinha status. Mas não tinha a resposta que trazia a vontade de continuar existindo: “Para que mesmo estou aqui?” Perante um projeto que deu errado e que, tecnicamente, tinha tudo para dar certo, minha versão mais jovem se perguntava qual era a sua razão de existir. Tinha interpretado também como insucesso o projeto de ser mãe, depois de perder dois bebês. Como mulher, eu experimentava uma incompletude, um grande vazio. O nome disso, descobri só bem mais tarde, era depressão.

projeto zambia
Como consultora na Equipe do Provincial Planning Department do Governo da República da Zâmbia (2009 - 2011)
Perto de um burnout, em 2011, parei tudo. Parecia haver ali duas alternativas: colapsar e morrer ou entregar-me ao vazio e deixar algo velho morrer, renascendo para um futuro que queria emergir a partir dessa crise. Dali brotaram duas perguntas existenciais: “Para que vim a esse mundo?”; e “a que serve o meu trabalho?” Mais tarde, o questionamento se modificou: “Para que o meu servir?”. O verbo mudou porque continha a resposta para as duas primeiras perguntas: vim para servir; então, meu trabalho é servir. Mas como?
Estamos em 2023 e sinto que estou me aproximando da resposta…
A mudança, desta vez, veio a partir da inquietude, ao reconhecer padrões nocivos de que tenho consciência há anos, sem conseguir mudá-los. Já tinha feito diversos tipo de psicoterapia, coaching e mentoria. Busquei caminhos na espiritualidade, no trabalho energético e em outras linhas alternativas. Foi quando encontrei respostas novas na abordagem do médico húngaro-canadense Gabor Mate: não conseguimos mudar crenças que foram construídas muito cedo, no período pré-verbal, ou herdadas ancestralmente, somente por processos conscientes que passam pelo cognitivo. Há crenças que estão intrincadas no nosso sistema nervoso. O caminho é pelo corpo, onde a memória da crença se manifesta em emoções e sensações.

Nessa imersão através das memórias do corpo, fiz uma descoberta fundamental: eu não sabia sentir. E a razão disso era justamente ser uma pessoa altamente sensível. Quando criança, sentir demais era avassalador. Se os adultos ao redor não sabiam se autorregular emocionalmente, eu absorvia tudo e até me culpava por isso. Então, eu congelava. Só agora compreendi que esse é o mecanismo de adaptação mais eficiente que nosso sistema nervoso desenvolveu para nos proteger. Ou melhor, para nos permitir sobreviver.
Se uma criança logo cedo aprende que sentir e expressar raiva é feio; que mesmo se apanhar, não pode chorar (“engole o choro!”); e a ela é dito de muitas formas que criança boa é aquela que se comporta bem o tempo todo, não é de se espantar que essa criança vai se tornar uma pessoa adulta dependente da aprovação externa, que busca atender as expectativas alheias e tenta agradar o tempo todo para receber reconhecimento e amor. Não é surpresa essa criança se tornar perfeccionista, crítica e exigente para atender os mais altos padrões — do contrário, ela se percebe inadequada, errada e sem valor. E não deve ser por acaso que esse tem sido o perfil de mais de 90% dos meus clientes, desde que comecei a oferecer sessões de Compassionate Inquiry, a abordagem criada pelo Dr. Gabor Mate que trabalha a raiz dos nossos traumas.

Não foi só o pensar racional que me ajudou a chegar até aqui. Não foi nada do pensar racional que me ajudou a tomar as decisões mais incríveis e que mudaram o destino da vida. Assumir uma dívida para viabilizar a ida para o mestrado na Alemanha, me casar, sair da engenharia no topo da carreira e empreender em um trabalho desconhecido, tornar-me mãe por adoção aos 44 anos... Tudo que mais me moveu e comoveu nasceu da certeza do sentir. De um lugar visceral, não cerebral. Um lugar que acessava a certeza do caminho a seguir, mesmo não sabendo o que viria adiante.
Ainda tenho medo de me apresentar e me expressar tão cruamente, sem os filtros e “proteções” do que seria “socialmente adequado”. A crença de que seria reprovada, criticada e rejeitada segue por aqui. Mas não tem problema. Eu cheguei aqui de mãos dadas com o medo. Chego em você e com o meu trabalho de mãos dadas com o medo. Não mais o medo que paralisa. Quem está aqui agora comigo é o medo que me anima a servir para que outras pessoas possam relembrar quem elas realmente são na essência, retomando sua autenticidade e agindo a partir dela, com todas as suas emoções.
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2 comments on “A transição agora é para (re)aprender a sentir”

  1. Ei, Ana!

    Maravilhosa!

    Sempre tão honesta, íntegra contigo e com o mundo.

    Admiro sua coragem de abrir-se ao novo, mesmo já tendo caminhado tanto, ampliando sempre mais um cadinho e disponibilizando a sua sabedoria viva ao próximo.

    Grande abraço e até logo.

  2. Que lindo relato, Ana, que essa nova fase te conecte ainda mais com a sua essência, que o seu servir te traga realização, que a vida seja muito muito generosa com você. <3

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