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Como construir segurança psicológica na abordagem do Compassionate Inquiry

O que constrói segurança para uma pessoa se abrir é a compaixão.

O que destrói a segurança para uma pessoa se abrir é o medo.
(Dr Gabor Mate)

Recentemente uma cliente disse em espaço terapêutico: eu nunca falei sobre isso com ninguém. Só de falar, toda a tensão do meu ombro foi embora.

Nem precisa ser profissional de coaching, terapia ou da área médica para contribuir com o alívio emocional e sanidade mental das pessoas ao seu redor. Há algo que todos podemos fazer: sustentar um espaço onde as pessoas consigam se abrir para expressar seus sentimentos e pensamentos.

Que qualidade está presente em alguém que permite às pessoas se abrirem?

Segurança!

Para fazer sentido dessa palavra, proponho uma reflexão: Com que tipo de pessoa você sente segurança para expressar o que realmente pensa ou sente? E consegue também se abrir para escutar duras verdades? Consegue pensar em alguém?

E como saber se as pessoas ao seu redor se sentem seguras com você para expressar verdadeiramente o que estão pensando, sentindo e percebendo?

A maioria de nós vai lembrar de poucas pessoas, ou nenhuma, com quem se sente realmente segura para se abrir. E isso justifica a superlotação das salas de terapia. Mas o que impede as pessoas de se abrirem com alguém da família, do trabalho ou até mesmo com amigos?

Medo!

Medo de romper algo na relação, perder o vínculo, medo do que a outra pessoa vai pensar de “errado”, medo do julgamento, medo de ficar vulnerável e se machucar.

Criar segurança psicológica faz as pessoas perderem esse medo e se sentirem seguras ao nosso redor. Elas começam a compartilhar o que é verdadeiro. Elas sabem que não estão em risco ao ficar vulneráveis compartilhando sobre si mesmas.

As pessoas reconhecem que podem ser elas mesmas quando há escuta com empatia e compaixão.

O exercício da compaixão cria segurança psicológica e possibilidades de solução.
Para compensar o excesso de trabalho, responsabilidade e tensão, a cliente começou com o álcool, depois partiu para o uso de drogas recreativas, depois para outras mais pesadas. Ela queria agora se livrar dos efeitos negativos do vício e não sabia mais como após vários internamentos clínicos. A cada recaída e novo internamento, a família a julgava e condenava com mais voracidade. Gabor conduzia essa sessão em uma aula, demonstrando como criar um espaço onde a compaixão elimina o julgamento e a pessoa baixa sua guarda. Com voz calma e curiosa, ele pergunta: Qual a funcionalidade da droga para você? O que ela te traz de bom?

A cliente relatou então que era seu momento de paz, alívio de estresse, relaxamento, entrava em um estado de conexão e criatividade, e conseguia assim, dar conta do seu dia. Na investigação compassiva, fez a pessoa perceber o quanto todos esses elementos são necessidades humanas e não havia nada de errado com buscar paz, relaxamento etc., mas haveria talvez formas menos nocivas que as drogas para adquirir isso? Juntos, em diálogo, chegaram à dor profunda que a droga ajudava a não sentir. Concordaram: todo ser humano quer evitar a dor.

Pela primeira vez na vida a cliente falou de seu maior desafio de vida sem ser julgada errada e se sentir culpada. Sentiu calma, encontrou seu próprio lugar de recurso interno, conseguiu ver possibilidades e se comprometer com novas estratégias.

“Somente quando a compaixão está presente, as pessoas se permitem ver a verdade.”

Original: “Only when compassion is present will people allow themselves to see the truth.”
(A.H. Almaas)
O que faz as pessoas se abrirem?
É simples, mas desafiador: esteja presente, curioso, observando e silenciando os julgamentos, focando no máximo potencial da pessoa e não se apegando à imagem que se apresenta à sua frente de uma pessoa desequilibrada, problemática e precisando de “conserto”. Somente em um estado calmo e compassivo somos capazes de ver a pessoa pelo que realmente é, entrar em contato com seu Verdadeiro Eu.

Nosso papel de escuta não é para ouvir lamentações, mas para permitir à pessoa acessar sua dor. Quando a cliente percebeu que suas recaídas eram porque as drogas, acima de tudo, anestesiavam sua dor, percebeu o que estava por trás de seu vício. O medo de sentir a dor era maior do que os efeitos colaterais negativos da droga. Quando se deu conta disso em um espaço compassivo, encontrou novos caminhos.

Esse lugar de presença e silenciamento sem julgamento nos torna espelhos limpos para a pessoa ver a si mesma pelo que realmente é na essência: um ser humano capaz, cheio de recursos e infinitas possibilidades.

É importante seguir limpando nosso próprio espelho regularmente, ou seja, nos comprometermos com nosso próprio processo de cura. Quanto mais fizermos isso, mais conseguiremos apoiar no processo de cura de outras pessoas sem precisar fazer muita coisa para isso.

“O sábio age sem fazer nada.” (Tao Te Ching, capítulo 2)
Na prática, a gente se coloca num espaço vulnerável primeiro, é um lugar livre de expectativas, de desapego de qualquer agenda. A pessoa capta isso, ela sente, e sabe que pode se abrir com segurança.

“Para que a conexão aconteça temos que nos permitir sermos realmente vistos.”
(Brené Brown)

Quando não há compaixão e escuta, a pessoa se afasta de você e de si mesma
Recentemente me afastei de um grupo que eu estimava muito. Eu vinha sentindo desconforto, baixa energia e, ouvindo cada vez mais os sinais do meu corpo, resolvi falar com uma colega do grupo sobre isso. Comentei que eu me percebia “pisando em ovos”, participando das atividades sem me ver atuando de forma autêntica, leve e solta. Havia um peso inexplicável. Ela logo interrompeu e replicou: claro que você está sendo autêntica!

Invalidar a experiência do outro com a sua, ou colocar a sua opinião e posicionamento interrompendo o que a outra pessoa está trazendo, são formas de infantilização. É como dizer “agora te interrompi, porque o que eu penso é mais importante do que o que você pensa, então, nem vou mais escutar”, ou “o que você diz não é verdade, eu tenho outra opinião e vou te dar o conselho de seguí-la.” E a pessoa descarrega seus princípios e valores sem considerar nossas diferenças, se torna capaz de escutar sem o viés de imposição de seus princípios e valores.

Ouvi da psicóloga Mirna Lewis1, sul-africana que trabalha com resolução de conflitos, essa frase: não ser escutada é uma das experiências humanas mais dolorosas.

Uma vez que não encontrei escuta empática e um espaço compassivo naquela pessoa, não me abri mais com ela, e isso provocou nosso afastamento. Afastamento social, junto com a sensação de impotência, são receitas para depressão. A pessoa primeiro se afasta das pessoas, depois, ela se afasta de si mesma.

Que bom que hoje tenho recursos para evitar que isso aconteça. Desejo que seu caminho seja repleto de pessoas com quem você consiga se abrir sem medo de ser quem você é – seja na família, entre amigos ou com um profissional que sabe escutar.

No meu caso, percebi que o que eu queria fazer ainda não tinha nome, ou seja, nenhuma empresa iria contratar para cargo que não tem termos de referência bem descritos. O jeito era empreender como única forma de experimentar o que eu queria de fato fazer. Conheço coaches com mais de 30 anos de carreira que já atuavam como tal, antes mesmo dessa atividade ser declarada uma profissão. Eu descobri depois de alguns anos que eu estava aprendendo e me apaixonando pelo que se chamaria mais tarde facilitação. Hoje já tem muitas empresas contratando facilitadores e coaches, surgiu também o termo líder facilitador. Às vezes, você vai ter que criar o seu próprio rótulo. Principalmente em um mundo onde 65% dos ​estudantes que estão hoje no ensino médio irão trabalhar em profissões que ainda não existem, empreender pode ser um bom caminho (Prognóstico da Universidade de Oxford, 2020).

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